A dor da perda

by julianacandido83@gmail.com

Um ano da minha pequena
Um ano que minha estrela na terra foi virar meu anjinho no céu…
Por mais que a gente se prepara, ou pelo menos que a gente tenta se preparar, nunca estamos prontos para o momento da despedida.
Falar sobre a dor da perda neste tempo? Ser compreendida por muitos (se não quase todos)? Confesso que é impossível. E o motivo infelizmente está mais próximo do que pensamos.
É difícil falar da dor da perda. É isso para toda a situação. Independente de quem seja. Mas mais ainda quando se trata de um bichinho de estimação. Quem nunca teve acha absurdo, quem teve de longe, sem muito envolvimento, acha demais, quem tem ou teve até tenta entender. Mas isso, sem generalizações é claro.
Cada dor da perda é única. Assim como cada dor da perda é difícil de ser compreendida.
Difícil.
Principalmente porque passamos por fracos, por pessoas que não tem capacidade de avançar, de superar perdas. Mas, quem não vive seu luto plenamente não é capaz de absorver o aprendizado que vem com ele. Assim como não é capaz de acalmar sua alma para uma nova etapa. Etapa de quem ficou em vida. Para uns o luto é de um dia, uma semana, um mês… para outros, anos. É o tempo de tentar acalmar o coração. De ter explicações para si mesmo. De se tornar forte para continuar.
Sabe aquele ditado de que perdas e dificuldades fazem a gente mais forte? Fazem sim pois trazem aprendizado. Mas se aprendizado e força vem por mera imposição ou pressão social, quem perde somos nós.
A casca fica grossa, e a alma também. Perdemos um pouco da nossa fragilidade com as perdas, mas perdemos principalmente um pouco de nossa capacidade de amar plenamente pois a cada perda, por mecanismo de defesa a ação de ordem é nos fecharmos. Até mesmo para evitar os novas dores parecidas. E nesse fechamento perdemos o que foi mais importante de ensinamento por quem foi e era tão especial: a capacidade de amar plenamente.
Sabe aquela pessoa que te espera em casa sempre de braços abertos? Está (quase) sempre disposta a te acompanhar, escutar suas reclamações, trabalhar até tarde com você dando apoio moral (mesmo que dormindo e reclamando para apagar a luz), exigir horários rígidos de café da manhã, almoço, janta e banheiros? Não está mais ali esperando, apoiando, reclamando ou pedindo. Não está mais ali de braços aberto (ou patas).

No fundo, para quem conheceu sabe que a relação já era bem ao contrário entre nós. Eu era a sua dona de estimação. E não ao contrário. Ela mandava, desmandava. Tinha vontades próprias e aí se não cumpríssemos o que solicitava. Às vezes pedia com jeitinho, às vezes mandava. Mas sempre com jeitinho e sempre com muito amor e sinceridade no olhar.
Talvez seja isso que muitos de nós, mesmo não admitindo, apreciamos mais as relações com nossos bichinhos de estimação do que com humanos, amigos, parentes…. existe mais parceria, existe mais sinceridade e existe mais amor! Por quê? Por que tudo isso é puro, sincero. Quase que exclusivo. E, principalmente, intenso. É o coração deles tocando o nosso. E o coração dela tocava e ainda toca o meu.
E Maria Isabela, que atendia por Maria, por Bela, ou mesmo por Belinha é e foi a pessoinha que chegou na minha vida com todo seu amor e carinho tocou meu coração de forma que eu me sinta culpada às vezes de não ter conseguido aproveitar do seu todo em toda sua intensidade e plenitude ou de estar à altura desse amor incondicional.

 
Como uma filha, é assim que a via e a tratava, éramos cúmplices, apesar de não sermos grudadas. Éramos amigas, apesar de nos tornarmos às vezes inimigas (mas por pequenos instantes). Éramos acima de tudo companheiras, principalmente de sentimentos. Sentimentos que não são trocados por outros. Sentimentos que não passam com o tempo. Sentimentos que foram transformados em dor da perda e saudades. Saudades eternas e que fazem com que o nosso amor incondicional perdure o tempo necessário para se tornar infinito, assim como a intensidade de nossa relação!
Infinita como a dor da despedida. Dos momentos difíceis que vivemos juntos. Dos autos que me deu. Dor de lembrar de seu último olhar, quando me viu cruzar a porta da UTI para ir embora, após nossa linda despedida, e achar que eu estava te abandonando naquele momento em que mais precisou de mim. Dor de saber que você realizou seu sonho no fim. Dor de saber que fiquei noites acordadas perto-longe pela impossibilidade de estar 24h na UTI e quando cochilei, se foi.

Dor de lembrar que fui eu que naquela única noite quis ir para casa. Dor que após o telefonema que me desperto e ter corrido de todas as forças não consegui chegar a tempo. Dor de saber que partiu. Dor de pentear o corpinho ficando geladinho. Dor de saber que era a última vez.

Dor de saber que não estava mais ali quem eu gostaria que estivesse de fato para a vida toda. Mas sabe de uma coisa? Agora carrego esta dor, mas tenho você em meu pensamento, em meus sonhos e em minha companhia como anjinho, todos os momentos e onde quer que eu vá. E como diz minha grande amiga Ana, nossos melhores amigos não humanos tem que ir antes da gente, pois eles sim não conseguiriam suportar essa dor da perda que dói muito mais que qualquer dor física.
Obrigada por ter feito parte da minha vida!

 

Obs: já tive perdas muito grandes, de outros animais de estimação, de amigos e de grandes amigas, de parentes, de gente querida. Gente de muito perto, gente de longe. Mas confesso que foi e parece acabar sendo a mais terrível perda de todas pela falta daquilo me fazia sentir viva: sua força de viver, alegria e a plenitude de amar incondicionalmente.

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